quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Se eu me deprimo é porque eu tenho uma felicidade tão grande, mas tão grande, que eu quero dividi-la com o mundo e não consigo. Silêncio, passividade, trabalho, trabalho, trabalho, seriedade. Não ser ouvido dói, e muito. Mas talvez o que mais doa, é saber que o leitor neste momento concorda com o meu texto, e é justamente dele que eu estou falando mal.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Tentei ter calma e paz...
Agora entendo. O caminho de um sábio é o da inveja, da raiva, da força. Isso tudo junto, com uma boa dose de compaixão e consciência nos tornará definitivamente o que nós somos.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O meu maior talento reside na capacidade de admitir o pouco talento que tenho, e conquistando e decifrando, lentamente e pacientemente esse pouco, conhecê-lo ao ponto dele tornar-se algo. Ser algo, ter algo. Isso sim, é raro.
Ele não gostava da solidão, mas o que ia fazer? Ou a abraçava ou trairia a si mesmo.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Bom humor!


"A mim me parece que a razão tem de mandar sobre a vontade. Isto parece ser a coisa mais fria e mais forte que se pode dizer. Mas creio que somos racionais, e temos a obrigação de ser racionais, e de não nos deixar levar, jamais, pelo instinto. Ou seja, recuso-me a chorar, a ficar insatisfeita, deprimida. Ah, mas a depressão existe... sim. Pois sim... mas tomamos uns comprimidos e vamos trabalhar, ponto. Sou a favor dos fármacos. Ouve, uma vida inteira a sofrer com dores, quando agora temos fármacos que nos ajudam e vêm uns quatro gurus dizer: Não... é que fazem mal! Não, o que faz mal é passar mal! Temos que desdramatizar sobretudo nós, os privilegiados. Eu não posso estar e não me posso dar ao luxo de estar desesperada, nem sem esperança, nem triste, porque tenho tudo. E mais, tenho, inclusivamente, força para combater, que é o maior privilégio!"

Pílar, esposa de José Saramago.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Felicidade.

A pior falta de compostura que eu observo por aí é gente feliz. Gente feliz a todo instante e a todo lugar. Sorrisos belíssimos, aplacados em dentes fortes expostos timidamente entre lábios leves compostos de uma dança lunar minguante. Quanta pompa. Parece-me, frequentemente, que de tanta gente feliz, a felicidade deve estar sufocada, usada demasiadamente a todo instante e por qualquer motivo. Um celular novo, um sapato novo, um livro novo. Outro livro, outro celular, e mais uma cerveja com aqueles amigos de dez anos de convivência. Super amigos, gente super feliz também. A pior falta de compostura. Falta de compostura porque esse comportamento aniquila aquilo que há de mais valioso no gênero humano: a compaixão. Altruísmo e compaixão são sentimentos inúteis numa sociedade feliz. Quem irá precisar deles? Aqueles teus super amigos felizes? Não, que é isso, eles são tão para cima, não são desse tipinho não. Superam tudo! E eu, que sempre assumi um tom meio melancólico, me sinto agora tão sereno por contemplar uma felicidade rica, uma felicidade que gente feliz não sente, que é preciso ter sentido a vida alfinetar o coração para fazer brotá-la. E isso me dá uma alegria tão grande, que eu me embriago de esperança de encontrar algum ser humano remanescente nesse planeta, e falar a ele desse sentimento tão divino que é a compaixão, e perguntá-lo se ele o conhece.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Pousou a boca
de Deus em meu peito.
E o frêmito foi tanto
que Ele falou e falou,
inundou-me.
A saliva divina
escorreu pelos meus olhos.
Vai em busca de ti mesmo e não voltes se encontrares choro e desespero; nascer é sempre assustador.
Se houve uma coisa em vida que eu aprendi é que aprender nunca é o suficiente.
A maior ignorância é o auto-exílio. Por isso eu tenho fé e rezo, autêntico em meus devaneios.
É impulso
ou conforto
o caminho pleno/
Impulsos de paz
são sempre bem-vindos.
Deus é a fagulha de vida em meio ao desespero, o vaga-lume assustado em meio ao dilúvio no matagal.
O que eu quero
escrever?
Que ansiedade forte
me impele a não
dormir.
Ímpeto,
assaz faminto
vulcão brotado
da fonte
misteriosa e profunda.
Passa-se o tempo,
finda o poema,
e eu não sei
o que escrevo.

domingo, 21 de agosto de 2011

Cristo


Descobri, agora à noite, o que sempre me afastou do cristianismo: o sentido para com tudo no universo. A explicação cristã sobre a origem, a vida e o além são, no mínimo, responsáveis pelo meu afastamento dos exercícios de fé. Contudo, percebi que sabedoria do nazareno não atinge seu cume na filosofia lógica, mas na atuação, na fé prática. Cristo não foi um grande filósofo sistemático simplesmente porque não era para ele ter sido. Ele não veio para explicar o mundo, mas para apontar um caminho, uma possibilidade de fuga diante do trágico. A filosofia cristã, neste sentido, é puramente experimental, porque Deus não é semântico - e a isso deve-se preservar os mistérios ou encarar a loucura e os perigos de uma fé sistemática -, mas uma força que se imiscui nos sentidos construídos na prática do ser enquanto possibilidade de felicidade humana. Pensar assim é arriscar aquilo que Agostinho havia postulado em seu Cidade de Deus: que um dia a metafísica faria sentido e futuro e presente seriam uno, o paraíso tomaria conta do terreno. É possível pensar, nessa linha lógica, um efeito inverso: não que a o além tome a matéria, mas que a prática divina se faça óbvia, que o paraíso seja terreno. Por isso a imagem de Cristo mais querida por mim, tinha que ser uma borrada. O Deus cristão jamais pode ser inteligível.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011


A inquietude é a trilha da loucura
A paz da estultícia
A síntese do sábio

O dharma é bom companheirooooooo, niguém pode negar! =D


"Sua mente, agora desnorteada pela escuridão inata da vida, é como um espelho embaçado, mas, se polir, é certo que tornar-se-á claro como cristal de iluminação das verdades imutáveis. Manifeste-se na prática da fé, polindo seu espelho incessantemente, dia e noite."

Nitiren Daishonin.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Solidão

Solidão arranca o peito em agonia.
Fiz um chá; aceitas solidão?
Que boa companhia.

sábado, 13 de agosto de 2011

Poema ao pai pintor

Ingenuidade é limitar o Amor à palavra.

O silêncio lavra o sentimento

e fala.

Que é voz? O nada.

Parca vontade de dizer – limitada.

Além do não dito do mundo

infla a força do Ser.

Aguda, calada, emana o que é

e coagula se cárcere, explode:

em raiva,

em tristeza,

em drama,

em melancolia,

em não se sabe o que faz mal,

mas que faz.

Mas se não explode,

se escorre com carinho

pelo olhar debruçado sobre não sei o quê,

por entre abraços

ou pelos dedos,

cria-se da vida a boa (e verdadeira) paisagem:

aquela que teus dedos pintaram com arte

e essa, que eu pinto quando te escrevo!

Minha missão é ser. Enfim eu descobri isso.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Que o desespero e a escuridão me embacem a visão
e a vista escura, perdida pelos medos passados e futuros
se encolha à frente da coragem e da beleza
que marquem-me, com suas brasas doridas
sedentas pelo sofrimento.

Que a agonia desponte do ser:
rancores, mágoas e medos.
que são se não hóspedes do tempo,
provação que tem de ser vivida?
E do tormento a cura reluzir
na chama eterna de sua esperança
a luz do Altíssimo.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Do silêncio à palavra
produzo minha poesia.
É que há uma poesia profunda
do ser o coração a-semântico:
meditação.
Foder: um exercício divino de almas.
Por cem vezes vivi
Por cem vezes morri
Por cem vezes tive medo
Por cem vezes gritei de medo
e por cem vezes gritei ao medo.
Por cento e uma vezes vivi,
e deixarei aqui um bom espaço de linhas
até que eu morra de novo.

Poesia é desejo
compreensão além texto
sacra ironia.
Desespero
Paralisia
Coração consumido pelo medo
Tímido passo adiante
instante feito:
euforia.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Tenho e tive tantos medos. Medo de não ser aceitado pelos próximos por meus insucessos ou sucessos - porque tememos também a vitória, em algum lugar dentro de nós. Medo de mim , do que serei. É solidão, é fracasso, mágoa, peso é o que me aguardam? Amor, ah, amor. Tive tantas saudades de você hoje mais cedo. O amor padece... tive tanto medo de amar. Tive medo também de ter medo, e de tanto meeeeeedo que se prolonga no meu pensamento meditei na tentativa de não pensar. Tive medo de pensar, e pensei. Que covardia de minha parte pode parecer isso a vós leitores. Mas diria, com uma certa timidez, que hoje cedo compreendi com um sorriso largo ao sol das nove horas da manhã, que pareço ter vencido o maior dos meus medos. E não é que meu coração bateu mais forte de medo quando pensei nisso? Há de ser pensar que temos muito medo de vencer nossos medos. Tememos fracassos póstumos à coragem e ao sucessos. Tememos sobretudo, incrivelmente e traçoeiros, a esperança, por tudo de belo e bom que ela nos proporciona, e que pode-se perder. E agora, escrevendo ao som alegre do piano de Liszt, alimento meu coração de força à luz de tudo que emana alegria e efemeridade.

sábado, 30 de julho de 2011

Ansiedade

Bendito sejam os ansiosos, que sofrem com o coração rápido e aflito, e com o pouco ar que respiram e o medo tagalerante preso nos braços, costas e pescoço. Bendito sejam, uma vez quando agem, mostram uma força digna dos ascetas, que até Deus duvida. É que um dia tudo morre mesmo, mas resta a obra daquele crânio ali, recheado de vermes que cavam, e nunca encontram.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Graça plena.




Tenho fé no que desacredito

pelo mesmo motivo que não vale a pena a vida, e eu vivo.



Mãe distante, muda e impassível

quantos segredos foram escorridos por teu colo virgem sob vigília?

Ó senhora, em tua morada de sombras e silêncio,

ris,

se da excelente luz que irradias,

me calo em paz arrodeado?



Lágrimas são lágrimas,

e a vida é mais azul e verde e cor de rosa anil branca amarela

quando é o que é e não se exime.


Deus é um absurdo!

O acaso é um absurdo!

Viver é obra única dos autênticos,

arraigada à voz do pensamento

a lógica chora

em sua vacuidade.

Graça plena.




terça-feira, 26 de julho de 2011


Apenas os que sofrem são dignos do sentimento mais puro que há: a felicidade sem motivo, o lampejo fugaz que ilumina tempos duradouros de escuridão; que justifica para sempre a razão de existir, seja na esperança de outra colossal faísca ou em sua contemplação eterna, contida na memória.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Stalker


"Vivi muita desgraça. Tive muito medo e vergonha. Mas nunca me arrependi, nem nunca invejei ninguém. Foi o meu destino, a minha vida... A gente é assim. Mesmo sem as desgraças, a nossa vida não teria sido melhor. Teria sido pior. Porque, nesse caso, não haveria felicidade. Nem esperança."

- Andrei Tarkovsky.

Fica aí a sabedoria do maior mestre do cinema. Que a fé do gênio nos guie, sempre.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Um livro não tem origem nem fim.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Meditativo 2 (em andamento)

O silêncio tem sido minha auréola nestas quistas tardes definhando em gosto de noite fria, um doce negrume derramando o melaço de sua mudez delineada brilho por brilho, palidez estelar, altiva e impiedosa. Palidez distante. Palidez opaca. Silenciosa. Sofrear a alma.
Como pode a penumbra mergulhar num lago de miasmas pelos meus olhos cerrados (ou semi-cerrados, entreabertos espiões) e anuviar os sons da alma?
Deixar-se visto pela escuridão.
Shiiii
reticências
(...) engraçado. Um sorriso de albor sempre me surpreende à materialização do embrião que habita o hiato compreendido entre o pensamento e o som ausente do nada. É que silenciar absolutamente é sempre mirar a face do vazio em sua inteira infinitude e insondabilidade. E complacência também. Há sempre um tiquinho de graça nisso tudo, rs.
Não pensar em nada é sempre ter um pouco de idéia, só assim, unicamente deste jeito, se valida a vacuidade em sua travessa notoriedade.
Liberdade da mente é a corrente amarrada à grande pedra jogada às entranhas do oceano, onde se pode ler (sempre tem que ser ler ou falar algo): "estou livre, estou livre!". É percebida a tranquilidade, a plenitude, a expressão do ser na palavra "livre", uma aleivosia astuta e sem dúvida cruel para com os sentidos, para com o ser, pois ser não é semântica.
(pausa)

Almejo o ser além-semântico, em todo seu pensamento a-palavra.





Meditativo 1

O silêncio não é o gládio que degola a palavra e a mutila letra a letra, é antes o reconhecimento do próprio verbo, sua possibilidade infinita, a semente dourada de sua máxima existência. É preciso treiná-lo.

domingo, 26 de junho de 2011

Há algo errado contigo?
Há algo errado com o mundo.
Falta poesia em excesso ao mundo.
Deus, pobre mundo.
:(

Se engana quem da ida do inverno assiste a esquiva da dor. Flores são flores. Ser dói para ser. Entre o adeus frio, cáustico e cruel da ordem da mundo, entre o gelo espremendo molhado e duro os nervos, entre a nevada de dor e a matéria rósea, amarelada, vermelha ou alva da flor, há o querer. Porque as flores não nascem com a fuga do inverno, elas germinam porque querem.

domingo, 19 de junho de 2011

E.T


Ensinamo-nos a falar, e de tanta inquietude quis guardar todo o mundo em palavra.

Frustrou-se com os limites da linguagem e se sentiu só.

Despiu-se da vaidade explicativa do mundo e de nós fez-se em silêncio solene.

Tanta sapiência o distanciou do sangue humano. Egoísmo despir-se de ser a si e ser o Ser? Não sabe responder-se, apenas se sentiu solitário no leito da contemplação do não dito.

Incompreendido da palavra e mais ainda da desistência do verbo, fez-se híbrido entre pensamento e vazio.

E desde então *

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Deus


Andei exercitando o corpo, e colhi bons resultados. Andei exercitando a mente e pacientemente espero. Hoje, eu exercitei alma (coisa rara no mundo), e que tumulto se fez no meu corpo e minha mente. Obrigado, Deus, por fazer teu mistério além das palavras, mas não além do som, obrigado por se fazer em Bach.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

A fonte do ser e os canais do devir (poema 25)


"Nas profundezas do Insondável
Jaz o Ser.
Antes que céu e terra existissem,
Já era o Ser
Imóvel, sem forma,
O Vácuo, o Nada, berço de todos os Possíveis.
Para além de palavra e pensamento
Está Tao, origem sem nome nem forma,
A Grandeza, a Fonte eternamente borbulhante,
O ciclo do Ser e do Existir."

Lao-Tsé

sábado, 28 de maio de 2011

I have your passion, my old friend.


Descontente de todos e descontente de mim, gostaria de redimir-me e orgulhar-me um pouco no silêncio e na solidão da noite. Almas dos que amei, almas dos que cantei, deem-me forças, apoiem-me, afastem de mim a mentira e os miasmas corruptores do mundo, e vós, Senhor meu Deus, concedei-me a graça de produzir uns bons versos que me provem a mim mesmo que não sou o último dos homens nem inferior àqueles que estou deprezando!

- Charles Baudelaire.

domingo, 15 de maio de 2011

Bukowski


"If you're going to try, go all the way. Otherwise, don't even start. This could mean losing girlfriends, wives, relatives and maybe even your mind. It could mean not eating for three or four days. It could mean freezing on a park bench. It could mean jail. It could mean derision. It could mean mockery--isolation. Isolation is the gift. All the others are a test of your endurance, of how much you really want to do it. And, you'll do it, despite rejection and the worst odds. And it will be better than anything else you can imagine. If you're going to try, go all the way. There is no other feeling like that. You will be alone with the gods, and the nights will flame with fire. You will ride life straight to perfect laughter. It's the only good fight there is."
- Charles Bukowski

domingo, 8 de maio de 2011

Profundamente emputecido com um monte de coisa. Ah, seu eu pudesse dizer: fodam-se!

domingo, 1 de maio de 2011


Lá, quando a tórrida face ao medo tece

Os desesperados segredos habitados no futuro

Em pensamentos torpes a alma se enrijece

E os pensamentos ondulam no abismo fundo

Lá, onde a desesperança a vida míngua

Acendo uma vela na língua

E sonho luz no caminho escuro

terça-feira, 26 de abril de 2011

Tecendo o amor (a João Cabral de Melo Neto e Larissa Botto)


Cada segundo que passa tece o encanto e o desencanto do mundo.
O meu segundo, o teu segundo, o segundo deles, outros tantos segundos emaranhados.

Assim se ergue a azul manhã, à força de um segundo de um galo que canta
e outros segundos de canto deste galo mesmo.
E além: outros segundos de cantos de tantos outros galos
apanhados à estrela luzidia: o Sol já acordado.

Como não se faz em um segundo a alvorada
meu despertar exprime-se em vários:
segundo após segundo (a vista inda de sono enevoada)
palpita o coração pesado a cada ponteiro levantado em busca do futuro
sete horas e cinco minutos e dois segundos
sete horas e cinco minutos e três segundos
sete horas e cinco minutos e quatro...
cinco...
seis...
sete segundos!
Parece que uma chave de rosca torce a aorta e o sangue se entorta todo para chegar ao coração.
Dói, e dói mesmo. E chamo isso de saudade.
Saudade é o encanto que habita o desencanto da ausência.

Os segundo que te não vejo, que te não ouço
que te não toco, que te não beijo
que mais são que ensejos do que há por vir?
São segundos de morte que querem brotar em vida.
Por isso gosto quando te calas: o silêncio cava-me a sede de tua voz.
Por isso gosto de te não ver-te: atroz a saudade cresce em que te fala.

E como um galo não tece a manhã com um canto solitário
a nós o amor só se mostra aveludado
ao encontro do segundo meu ao segundo teu
ao instante caro de sorrisos encontrados em nossos lábios
ao sangue circulando com vontade em minha aorta então recuperada.
A saudade que mata se converte em alegria
e dura o suficiente para revelar-se dor e falta.
É que te amo como um galo que acorda a manhã
e silencia, para vê-la fugir em saudade
e cantá-la para um novo dia!

sábado, 2 de abril de 2011

Valeu, Lula!

A FORÇA DA CANÇÃO

Não deixe que o mundo malvado destrua
A força da sua mais nova canção
Que o monstro sedento lhe oprima e lhe assuste
Em seu desajuste, lhe roube a emoção

Não deixe que a dura visão do abandono
Lhe torne tão louco como um cão sem dono
Vagando na rua sem ser de ninguém

Que os galhos profundos dos golpes da vida
Lhe tomem, se tornem eternas feridas
De uma força maior que lhe afaste do bem

Porque a maldade, meu bem na verdade
É o puro retrato da realidade
Dos homens mais fracos que perdem a partida

Mais pelo contrário, reúna-se aos seus
Quando e se puder faça as pazes com Deus
Talvez uma luz lhe indique a saída

quarta-feira, 30 de março de 2011

Mother Mary


Let It Be

When I find myself in times of trouble
Mother Mary comes to me
Speaking words of wisdom:
Let it be

And in my hour of darkness
She is standing right in front of me
Speaking words of wisdom:
Let it be

Let it be, let it be
Let it be, let it be
Whisper words of wisdom:
Let it be

And when the broken hearted people
Living in the world agree
There will be an answer:
Let it be

For though they may be parted there is
Still a chance that they will see
There will be an answer:
Let it be

Let it be, let it be
Let it be, let it be
There will be an answer:
Let it be

Let it be, let it be
Let it be, let it be
Whisper words of wisdom:
Let it be

-

Let it be, let it be
Let it be, let it be
There will be an answer:
Let it be

Let it be, let it be
Let it be, let it be
There will be an answer:
Let it be

And when the night is cloudy
There is still a light that shines on me
Shine on until tomorrow
Let it be

I wake up to the sound of music
Mother Mary comes to me
There will be no sorrow
Let it be

Let it be, let it be
Let it be, let it be
There will be no sorrow:
Let it be

Let it be, let it be
Let it be, let it be
Whisper words of wisdom:
Let it be

quinta-feira, 17 de março de 2011

Tem que ser assim mesmo...


Reclamar do nervosismo e da melancolia de um poeta é um crime mais hediondo que o seu próprio assassínio. Esse tipo de gente se contenta em existir somente para vez ou outra faiscar esperanças nas solidárias fendas do fatalismo.

Vela



O poeta se conforta na escuridão apenas por ser ela a matéria mais profícua de suas travessuras: fazer dos versos velas, brincar com sombras.

L'amour


O amor é um relâmpago que estala na escuridão de vales desolados, e que revela em luz suas próprias sombras.

terça-feira, 8 de março de 2011

Deixa que floresçam...


Florido

Florido está o pessegueiro,
Mas nem todos botões serão frutos,
Cintilam claros como espuma de rosas
Diante do azul do céu e do correr das nuvens.

Pensamentos brotam como flores,
Centenas a cada dia -
Deixa que floresçam! deixa acontecer!
Não queiras saber qual é o fruto!

É preciso jogo, e inocência
E inundação de flores,
Ou o mundo nos seria demais pequeno,
E a vida sem nenhum sabor.

Hermann Hesse

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Publicação

De acordo com notícias que recebi hoje esse será o meu primeiro poema publicado em livro. O escrevi quando tinha 18 ou 19 anos, tão distante e tão perto do que sou hoje.


Ensina-me como deixar de pensar (ou O Cruzado)

Contei-me em noites pelo deserto
E o vício, não longe, de tão perto
Não findara acalentar
Surgiam luas, passaram dias
E eu, errando em brumas frias
Ainda estulto, continuava a vos amar
Meu corpo, granítico em áridas noites
Não reclamava, ó Deus, dos vossos açoites
Sôfrego esquecimento, impossível de clamar

Recordava-me imerso em batalhas
Donde à vida a morte emana
Sangue, tripas, presentes de navalha!
Cimitarra! Presteza que minha alma inflama
Brados ecoavam pelos campos
Oníricas bandeiras, imanes rajadas
Donde a vida tange a falha
E o erro, exala o pranto
Eis em guerra o que vejo
Lugar, em que a fúria arde em medo
E quem vence é sempre santo

Diz-me, ó Deus das causas justas
Se não vedes o que vejo perante o céu
Quem és tu, alma iníqua, para perdoar o infiel?
De que valem pequenas abusas
Se o teu ser, arde em fel?

Exaspero-me em vossos mandamentos
Não, não quero mais ser um cruzado
Tombo, saturado em tormentos
Pois Cristo, ó Deus, possui coração ávido
Deslembrar-te eu quero, mas, me diz:
“Por que ainda sou tua meretriz?”

O sono da razão produz monstros
Mas, seu despertar não afaga sentimento
Coisas de mau amor que faz ferir
E que não susta um só momento
Ai daquele que pensar em pensamento
Que por aí há maior pensar que o sentir

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Aos amigos que não entenderam o silêncio dos últimos meses do ano passado.

ORÉGANO

QUANDO APRENDI com lentidão
a falar
creio que já aprendi a incoerência:
ninguém me entendia, nem eu mesmo,
e odiei aquelas palavras
que me retornavam sempre
ao mesmo poço,
ao poço de meu ser ainda escuro,
ainda transpassado do meu nascimento,
até que me encontrei numa plataforma
ou num campo recém-estreado
uma palavra: orégano,
palavra que me desenredou
como que me tirando de um labirinto.

Não quis aprender mais nenhuma palavra.

Queimei os dicionários,
encerrei-me nessas sílabas cantoras,
retrospectivas, mágicas, silvestres,
e a todo grito pela beira
dos rios,
entre as tábuas afiladas,
ou no cimento da cidadela,
em minas, oficinas e velórios,
eu mastigava minha palavra orégano,
e era como se fosse uma pomba
que eu soltava entre os ignorantes.

Que cheiro de coração temível,
que cheiro de violetário verdadeiro,
e que forma de pálpebra
para dormir fechando os olhos:
a noite em orégano
e outras vezes, fazendo-me revólver
acompanhou-me passeando entre as feras:
essa palavra defendeu meus versos.

Uma mordida, uns caninos (iam
sem dúvida destroçar-me
os javalis e os crocodilos):
então
tirei do bolso
minha estimável palavra:
orégano, gritei com alegria,
brandindo-a em minha mão trêmula.

Oh, milagre, as feras assustadas
pediram-me perdão e me pediram
humildemente orégano.

Oh, lepidópetero entre as palavras,
oh palavra helicóptero,
puríssima e prenhe
como uma aparição sacerdotal
e carregada de aroma,
telúrica como um leopardo negro,
fosforescente orégano
que me serviu para não falar com ninguém,
e para aclarar meu destino
renunciando ao alarde do discurso
com um secreto idioma, o do orégano.

Pablo Neruda

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Bachianas Brasileiras, No 5: Aria


Tarde uma nuvem rósea lenta e transparente.
Sobre o espaço, sonhadora e bela!
Surge no infinito a lua docemente,
Enfeitando a tarde, qual meiga donzela
Que se apresta e a linda sonhadoramente,
Em anseios d'alma para ficar bela
Grita ao céu e a terra toda a natureza!
Cala a passarada aos seus tristes queixumes
E reflete o mar toda a sua riqueza...
Suave a luz da lua desperta agora
A cruel saudade que ri e chora!
Tarde uma nuvem rósea lenta e transparente
Sobre o espaço, sonhadora e bela!

Por que essa letra ainda não tinha parado aqui? Oxe!


Uma das músicas que mais escutei (escuto) na vida. Composição de Villa-Lobos e letra de Ferreira Gullar.

"Lá vai o trem com o menino
Lá vai a vida rodar
Lá vai ciranda e destino
Cidade noite a girar

Lá vai o trem sem destino
Para o dia novo encontrar
Correndo vai pela terra
Vai pela serra, vai pelo mar

Cantando pela serra do luar
Correndo entre as estrelas a voar
Luar, no ar, no ar, no ar"

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Hoje lembrei de Vandré...

"os amores na mente
as flores no chão
a certeza na frente
a História na mão
caminhando e cantando
e seguindo a canção
aprendendo e ensinando
uma nova lição"

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Tarkovsky


"No princípio era o verbo. Por que, papai?"

Assim termina o filme "O Sacrifício", do gênio Andrei Tarkovski. Uma obra que rompe com o contínuo silêncio mortífero, sonso e hipnótico da modernidade. No princípio era o verbo, e agora, é o quê?


domingo, 23 de janeiro de 2011


Hoje eu lembrei de uma frase do Édipo Rei que ilustra tanto a ansiedade humana.

"Que tem a temer o homem, frágil joguete da sorte, que do futuro nada sabe?"

Há algo mais a ser dito, mas é preciso revisitar Sófocles.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Pensamento do Doutor Fausto para começar o dia

"Quando na cela acanhada
A luz de novo se vê,
Fica a alma iluminada,
Sabe o coração quem é.
Volta a falar a razão,
Renasce a esperança perdida,
E em nós cresce a aspiração
Aos rios e às fontes da vida"

Goethe

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

É sério, eu cansei de tanta mediocridade.

Eu juro, eu juro por tudo, olhei enquanto pude no interior de mim, em busca daquilo que pudesse me apontar a causa de tudo isso que sinto. Não encontrei palavra. Desviei os olhos para os lados e enfim entendi, o problema está no mundo, não em mim.


"Aqui não existem loucos. Aqui existem pessoas sensíveis que não aguentam a loucura do mundo aí fora"
Essa frase foi extraída do discurso de um interno de um hospício, durante uma entrevista.

Vazio

Ontem eu senti um vazio de um conforto sublime. Não havia medo, ansiedade ou angústia, nem mesmo esperança, uma vez que o futuro tinha se tornado supérfluo. Acho que foi a primeira vez em minha vida que cheguei perto daquilo que frequentemente associam ao "concentre-se no presente". Sim, pois não houve transcendência de arte, fé ou felicidade. Apenas um vazio confortante.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Os homens tolos

Os homens tolos
(uma paródia eliotiana em dizeres de esperança)

I


Nós somos os homens tolos

Os homens insilenciados

Um nos outros desamparados

Nossas bocas cheias de vozes

Emudecidas ao medo de nós mesmos

Sussurram frias e emudecidas – ai de nós!

Como sapos que coaxam nos pântanos

Ou o vento no mato molhado

Em nossa varanda solitária


Voz sem palavra, mas ainda voz

Cochicha a humanidade

Gesto sem resposta, ação sem vigor

Responde nossa vontade


Aqueles que nos deixaram

E partiram de olhos fechados para o único reino da morte

Nos recordam – se o fazem – não como vazias

Almas imateriais e caladas, mas como

Os homens que sussurram

Os homens tolos


V

Aqui plantamos as açucenas

as açucenas, as açucenas

além do inverno as açucenas florescem

Na rubra e vívida primavera


Entre a idéia

E a realidade

Entre o movimento

E a ação

Ergue-se a esperança

Porque Tua é o reino dos homens


Entre a concepção

E a criação

Entre a emoção

E a reação

Ergue-se o ato

A vida é curta para lamentação


Entre o desejo

E o espasmo

Entra a potência

E a existência

Entre a essência

E a descendência

Ergue-se a palavra

Porque Tua é o reino da vida

Porque Tua é o reino da vida

Porque Tua é o reino da VIDA


E assim expira o velho mundo

E assim suspiram os velhos homens

Não como um lamento

mas um incômodo silêncio

O ar preso de revolta

Não de ira na garganta

Mas de um grito que se anuncia

De esperança

E compaixão.