segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Soneto pra amiga preta.


Nessa, fazia um tempo que não conseguia escrever nada. Odeio quando meus dedos ficam mudos. Felizmente, hoje pensei muito em você, e enfim idéias surgiram. Obrigado por existir em minha vida e me ter feito quebrar tantos "gelos" e segredos que apenas nós sabemos. Te amo, preta!



Quem encontra o dom de arrancar da alma desejos submergidos?
De tornar palavra profundos sons emudecidos?
Dádiva é cantar à vida boa amizade,
matéria rompida do silêncio, sina bem aventurada.

Nesse laço que eu tenho, que em tu, em nós, vivemos
não seja nunca essa alegre corda afrouxada.
É que surdo o mundo vive, e persiste
na solidão da palavra muda pronunciada.

E que vivam os outros protegidos em seus túmulos!
De sofrimentos compomos a matéria de nossos cantos
e saramos da mudez dos nossos lábios.

Dizer que te amo já seria engano
visto que a mim pertences quando me amo
num completo amor de nós mesmos.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Chora menino, tua alma é tamanha que não cabe no teu corpo. Vaza.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Leitura




A poeisa me tirou a vida e arrastou-a por entre linhas
inseguras e tremidas
recortou-me em inúmeros pe-da-ços
em sílabas men-te
em sílaba
sílaba mão
em sílabas ven-tre
so-nho
pê-nis
co-ra-ção
ah, e você acredita que a poesia me põe em sílabas
que me dêem algum sentido?!
frequentemente vejo-me palavra soletrando "SO-RA-NIS",
"MEN-TRE-NHOS"
é sempre um emaranhado,
uma falta de consideração aos meus pedaços silábicos
cheios de saudade das palavras inteiras
e daquela fonética singular que só a palavra amor em sua integridade traz
que mania danada da poesia imitar a vida!
cansei-me, poesia!
quero-me palavra inteira e melodia
quero ler-me em quietude
no meu quarto claro
colados em tuas páginas os meus cacos
minha inteira matéria contida em teu papel
A página foi virada, mas o livro, esse continua o mesmo.
Solidão
devora o tempo
apavora
fere os segundos
rumina a memória
escoa...
escoa...
... demora.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Nietzsche, como sempre gigante!


Uma!
Alerta, homem!
Duas!
Que diz a meia-noite profunda?
Três!
"Tenho dormido, tenho dormido...
Quatro!
"De um profundo sono despertei.
Cinco!
"O mundo é profundo...
Seis!
"E mais profundo do que o dia julgava.
Sete
"Profunda é a sua dor...
Oito!
" E a alegria... mais profunda que a melancolia.
Nove!
"A dor diz: Passa!
Dez!
"Mas toda alegria quer a eternidade...
Onze!
"Quer profunda eternidade!
Doze!


Nietzsche, Assim Falava Zaratustra.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Hoje o testosterona subia à cabeça!


Tá fazendo o que em casa?
Por acaso esta doente?
Ver TV é deprimente, não tem nada mais sem graça
Bom de noite é ir pra rua
Mesmo quando está chovendo
Eu que nunca me arrependo
Tá errado, eu tô fazendo
Vai saber o que é normal?
Só que eu posso lhe dizer:
Bom é quando faz mal

20 caixas de cerveja
Um barril de puro whisky
Quilos de carne vermelha
Fique longe não se arrisque
Não importa onde esteja
E sempre onde tem mais barulho, maior cheiro de bagulho
Disso eu me orgulho
Vai saber o que e normal?
E só que eu posso lhe dizer:
Bom é quando faz mal

Consequência qualquer coisa traz
Quando é bom nunca é demais
E se faz bem ou mal tanto faz, tanto faz, tanto faz

Tá fazendo o que em casa?
Por acaso esta doente?
Ver TV é deprimente, não tem nada mais sem graça
Bom de noite é ir pra rua
Mesmo quando está chovendo
Eu que nunca me arrependo
Tá errado, eu tô fazendo
Vai saber o que é normal?
Só que eu posso lhe dizer:
Bom é quando faz mal

Conseqüência qualquer coisa traz
Quando é bom nunca é demais
E se faz bem ou mal tanto faz, tanto faz, tanto faz


Matanza - Bom é quando faz mal

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Novos rumos


todo hiato é espaço vazio
prelúdio do início
além fim

terça-feira, 30 de novembro de 2010

em construção

Dizem que o ódio é uma palavra forte
que não deve ser dita ao acaso, em momentos de furor
mas todos amam o amor, e repetem-o a todo instante
não seria o amor também uma palavra forte?

Além da trilha escura
habita uma chama colorida
que reclama, grita

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Home, sweet home...


Já faz um tempo que me sinto em casa apenas quando estou fora dela

sábado, 27 de novembro de 2010

Simultaneidade


"- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver!
- Você é louco?
- Não, sou poeta."

Mário Quintana

Recebi esse poema há algum tempo de uma pessoa muito especial em minha vida. Junto ao poema ela escreveu algo como "não pude não pensar em você..."

Fênix


"Como consegui suportar? Como conseguir suportar com espírito elevado semelhantes feridas? Como ressuscitou minha alma desses túmulos?
Sim? Há algo íntegro em mim, qualquer coisa que não se pode enterrar e que faz rolar os rochedos; denomina-se a minha vontade. Essa atravessa os anos silenciosa e imutável.
A minha antiga vontade quer andar com passadas normais; sua razão é dura e invulnerável!
Eu sou vulnerável apenas no calcanhar!
'Assim vive você sempre, pacientíssima, igual a você mesma. Passou sempre todos os túmulos!
Em você ainda vive o irresgatável da minha mocidade, e viva e jovem permanece sentada, esperançosa, sobre as amarelas runínas das sepulturas.
Sim; você para mim é ainda é a destruidora de todos os túmulos. Salve, minha vontade! E só onde há sepulturas é que há ressurreições."
Assim falava Zaratustra.

sábado, 20 de novembro de 2010

Força?

"O que não provoca minha morte faz com que eu fique mais forte"
Nietzsche


Verdade? Freud dizia que a principal responsável pelas pertubações psicológicas é a frustração. Nem sempre a dor te põe para frente.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010


Cerveja, filosofia e Jethro Tull: mistura perfeita.

Zeus




Com o tempo você aprende que há pessoas que definitavente não merecem teu perdão. Descobre que é preciso inteligência para que o amor não te destrua. Mais ainda, entende que o sangue, décadas de convívio e o suposto "amor natural" não querem dizer absolutamente nada. A questão correta talvez não seja como amar, mas por quê.

domingo, 7 de novembro de 2010

Se isso não foi para o romance Crime e Castigo eu me dane!


"O juiz vermelho fala assim: 'Por que foi que este criminoso matou? Queria roubar'.
Mas eu vos digo: a sua alma deseja sangue e não o roubo; tinha sede do gozo da faca!
A sua pobre razão, porém, não compreendia essa loucura e decidiu-o: 'Que importa o sangue? disse ela. - Nem ao menos deseja roubar ao mesmo tempo? Não deseja você vingar'?
E atendeu a sua pobre razão, cuja linguagem pesava sobre ele como chumbo: então roubou ao assassinar. Não queria envergonhar-se da sua loucura.
E agora pesa sobre ele o chubo do seu crime; mas a sua pobre razão está tão neutralizada, tão torpe!...
Se ao menos pudesse agitar a cabeça, a sua carga cairia, mas quem agitará esta cabeça?
Quem é este homem? Um conjunto de efermidades que, pelo espírito, abre caminho para fora do mundo, onde querem apanhar a sua presa.
Quem é este homem? Um bando de serpentes ferozes que não podem entender-se; por isso cada qual vai por seu lado procurar presa pelo mundo.
Vede este pobre corpo! O que ele sofreu e o que desejou, a alma o interpretou a seu favor: interpretou-o como deleite e desejo sangüinário do prazer da faca.
O que adoece agora, vê-se dominado pelo mal, que é mal agora; quer fazer sofrer com o que o faz sofrer; porém houve outros tempos e outros males e bens.
Antes era um mal a dúvida e a vontade própria. Então o enfermo torna-se hereje e bruxo sofria e fazia sofrer.
Porém isto não quer penetrar nos vossos ouvidos: prejudia, dizeis, os vossos bons; mas que me importam a mim os vossos bons?
Nos vossos bons há muitas coisas que me causam aversão, e certamente não é o seu mal."

Assim Falava Zaratustra, Nietzsche.

Não é de hoje que relações entre Dostoiévski e Nietzsche são evidentes. Postei esse trecho do Zaratustra apenas para registrar aqui as palavras do filósofo ao profundo personagem Raskolnikóv. E mesmo que já existam trabalhos sobre o tema, quando o assunto atravessa esses dois gênios não tem psicologia que aguente.

"É verdade: amamos a vida não porque estejamos habituados a ela, mas ao amor.
Há sempre o seu quê de loucura no amor; mas também há sempre o seu quê de razão na estultícia.
E eu, que me sinto bem com a vida, creio que para conhecer felicidade não há como as borboletas e as bolhas de sabão, e o que se lhes assemelhe entre os homens.
Ver revolutear essas almas aladas e loucas, encantadoras e buliçosas, é o que arranca lágrimas e canções de Zaratustra.
Eu só poderia crer num Deus que soubesse dançar.
E quando vi o meu demônio, pareceu-me sério, grave, profundo e solene: era o espírito do pesadelo. Por ele caem todas as coisas.
Não é com rancor, mas com sorriso que se mata. Adiante! liquidemos o espírito do pesadelo!"

Ler e escrever; Assim falava Zaratustra; Nietzsche.

P.S: a escolha de Vaslav Nijinsky para a foto não foi à toa.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Tempo


Ticking away the moments that make up a dull day
Fritter and waste the hours in an offhand way
Kicking around on a piece of ground in your home town
Waiting for someone or something to show you the way

Tired of lying in the sunshine staying home to watch the rain
And you are young and life is long and there is time to kill today
And then one day you find ten years have got behind you
No one told you when to run, you missed the starting gun

And you run and you run to catch up with the sun, but it's sinking
Racing around to come up behind you again
The sun is the same in a relative way, but you're older
Shorter of breath and one day closer to death

Every year is getting shorter, never seem to find the time
Plans that either come to naught or half a page of scribbled lines
Hanging on quiet desperation is the English way
The time is gone, the song is over, thought I'd something more to say

Home, home again
I like to be here when I can
And when I come home cold and tired
It’s good to warm my bones beside the fire
Far away across the field
The tolling of the iron bell
Calls the faithful to their knees
To hear the softly spoken magic spells.

Florbela: não é lá essa poetisa toda... mas segue um classicão português!


Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais este e aquele, o outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar.

E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...

sábado, 30 de outubro de 2010

Drummond, sempre Drummond...

O amor antigo

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mais pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.

Shine on your crazy diamond




É porque se tu não encontrar um diamante doido dentro de ti, ou encontrá-lo e não saber fazê-lo brilhar, tua vida não valerá a pena.

E o Pink Floyd é muito bom! ^^

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Amor, meu GRANDE amor!


"Meu Deus! Um minuto inteiro de felicidade! Afinal, não basta isso para encher a vida inteira de um homem?..."

Noites Brancas, Fiódor Dostoiévski.


Acabei de ler esse conto. Nunca chorei tanto em minha vida com qualquer obra de arte. Que profundidade em uma linguagem tão rápida , simples e impactante! As palavras parecem uma mão que puxam teu coração em diversas direções a cada entendimento do que há escrito. Uma diversidade de sensações vem à tona: tristeza, solidão, pena e orgulho de mim mesmo... felicidade, desespero, mágoa... um sentimento de vazio... É como se minha memória tivesse montado um confuso nó sobre tudo que já vivi. Meu passado tornou-se um laço emaranhado esta noite. E é essa a intenção deste gigante: apontar a diversidade absurda que é a vida, confundir os teus nervos e fazer-te procurar as respostas no caos, no intenso, naquilo quem em senso comum denominamos erroneamente de "anormalidade" ou "loucura". Aceitar as naturais exaltações "patológicas" e o vazio humano, eis o caminho. Definitivamente um gênio, e um dos maiores que já existiu, sem dúvida. Meu amor, meu grande amor.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Neruda


"O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido"
Pablo Neruda


Que essa máxima me guie mais uma vez, como sempre tem sido, grande mestre.

O futuro que não tive


Encaras tua frente: a tua sombra na parede

te engole, te asfixia, te atordoa...

como é longa a escuridão que crias!

e criaste porque quiseste, o laço ao passado está aí porque sonhaste...

sonhaste alto e a vida não te deu, amigo, a vida não te deu!

Que te deve a vida? Não te deve é nada!

Foste bom porque quiseste, e só isso. Nada mais.

Não espere. O sonho é um veludo de conteúdo mudo. Falseia, falseia o mundo.

A vida não admite futuro puro.

Assim expiras:

não em morte,

mas esperança;

não em raiva,

mas controle;

não em choro,

mas suspiro;

não como um GRITO!...

(silêncio)

Que pensas em fazer, companheiro?

Teu futuro te abandonou.

Te restou a solidão do quarto, a grande sombra do que eras (e serias) estampada na parede.

O futuro falecido não te deixa... olhas com saudade os azulejos...

Mas e a boêmia?

E o sexo?

E a música, a música, companheiro!?

Poderias dar um passo tímido

e fazer feliz tua negra companhia

estendendo tua mão

à uma dança sombria contigo.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Vivi...


"IV

muitas doenças que as pessoas têm são poemas presos
abcessos tumores nódulos pedras são palavras
calcificadas
poemas sem vazão

mesmos cravos pretos espinhas cabelo encravado
prisão de ventre poderia um dia ter sido poema

pessoas às vezes adoecem de gostar de palavra presa
palavra é boa é palavra líquida
escorrendo em estado de lágrima

V

lágrima é dor derretida
dor endurecida é tumor
lágrima é alegria derretida
alegria endurecida é tumor
lágrima é raiva derretida
ravia endurecida é tumor
lágrima é pessoa derretida
pessoa endurecida é tumor
tempo endurecido é tumor
tempo derretido é poema"


Viviane Mosé

o sofrimento é folha que cavalga o vento
rodopia aos teus olhos
e cai
se não segurares

sábado, 16 de outubro de 2010

Uma homenagem ao RPG Lobisomem, o Apocalipse. E também a Quentin Tarantino! ^^


Uma mosca está parada em cima de sua bochecha. Meus olhos deslizam com diligência para a direita, ao ponto de sentí-los pesar sobre o nariz, até que atingem a oleosidade do local de pouso do insento. A pele ruguenta torna-se ainda mais repugnante com o suor natural do corpo. Levanto a cabeça sinicamente e solto a última fumaça do cigarro que custo acariciar entre os dedos da mão direita. Meu chapéu cai com o movimento. Sinto-o por trás da cadeira que sento. Sou capaz de respirar sua queda, torná-la tão minunciosa que a lentidão tornaria inverosímil o fragmento de tempo utilizado para tal ação. A mosca assusta-se com a brasa caindo no chão. Afirmar que não consigo pensar seria desonestidade. O inverso, nunca estive tão concentrado. De chofre, percebo a mosca passeando entre os meus olhos, tão inocente. Por um segundo sinto como se tudo ao meu redor fosse insensível: escuro, inaldível, sem cheiro ou toque. Reto-mo meus sentidos. Nunca estiveram tão aguçados. Cada vez que ela toma conta de mim é um delírio mais apurado, um prazer inefável. Minha respiração pára, não preciso mais de ar. A cadeira escorrega entre meu corpo e o chão, deixando amassar o chapéu preto agora amassado. Um força tremenda ecoa em minha mente e meus músculos. É, é ela mais uma vez: a hora do fúria começou.
Perco meu corpo, troco a voz por grunidos e salto no sujeito de pele oleosa e ruguenta. Atingo em cheio minha garra direita em sua nuca. O sangue jorra em minha cara. O ferro se preicipita em minha saliva e escorre pelos pelos de meu pescoço. É uma fonte vermelha que se liberta, afim de ser degustada apenas por aqueles que merecem ter ferro circulando pelo organismo.
Me acalmo e retomo minha forma débil. Lamento pela duração do espetáculo, pouquíssimos segundos... Mas esse curto tempo é o necessário para que minha fé não seja abalada. Não há Deus, arte ou filosofia que supere a transcendência impetuosa do sangue. Só ela faz-te esquecer a ti mesmo.

- Couro de Dragão, tribo: Cria de Fenrir, augúrio: Aurhon.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Versos do "Quenga de Coco" que marcaram o melhor ano de minha vida, o de 2004!



"Mas deixa estar ingratidão
Ao cantar da patativa outro Sol já vai nascer
Vou tirar de minha mente
Cantar outro repente
Vou tentar te esquecer"


Dancei muito forró ouvindo Quenga de Coco no 3º ano do Nóbrega. Esses versos marcaram minha vida pra sempre, guardam um tempo de uma felicidade absurda! Felicidade que, diga-se de passagem, voltei a ter...

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Porque RPG é cultura.




Lá, em Kiva,
pude ver os sangretos olhos
ódio e sofrimento
da criatura esguia.

Lá, em Kiva,
meus olhos cegaram,
mas a garganta cantou
e da espada fez-se a dança.

O abismo à luz se esquiva
o amor à fé indica
E ao meu canto, Endélion,
por Fildran,
o mau findou.

Rivennell, elfo bardo





quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Carlos


"O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá"

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Não chores


"Vamos, não chores...
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualqer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-se, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho."


Carlos Drummond de Andrade.
Hoje a tristeza bateu forte. Só me resta ler Drummond.

Porque a cultura de massa às vezes ensina mais que os grandes filósofos...


"Fight is the best thing to do when life gets you down!"
Zangief, Super Street Fighter IV.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Ciúme...? Lá, lá, lá...


Estranho, mas hoje eu o senti de uma maneira tão boa... fazia tempo que não vinha assim...

domingo, 26 de setembro de 2010

o que é poesia?
poesia é poesia, ora essa!
hoje eu pensei versos lindos, profundos
e os esqueci

engraçado,
os melhores poemas
raramente chegam aos papéis
esvaecem ao vento na mente

sábado, 25 de setembro de 2010

Versos a um jovem poeta


(a Rainer Maria Rilke)

todo poeta se questiona
se é dom ou esperança
o seu anseio
habita o teu sangue sílabas cantantes?
ou é tolice aquilo que incita a tua língua?
o que te move?
o que faz cócegas nos teus nervos?
é a PALAVRA?
poesia não cabe no ensejo de uma resposta
talento leva uma vida pra que se encontre
amola teus versos, teu viver
e o resto... ah, que se dane

sábado, 18 de setembro de 2010

Amadeus: sinfonia nº25.


Ensurdece-te ao mundo,
ouve teu outro mundo de dentro,
aquele que vibra.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Uma homenagema à minha tabaquice, minha sabedoria. Fazia tempo que esse menino não existia...


Bola de meia, bola de gude

Composição: Milton Nascimento


Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão

Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão

E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade alegria e amor
Pois não posso
Não devo
Não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal

Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto fraqueja
Ele vem pra me dar a mão

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Poema urbano


Eu preciso de fome
de agonia
de felicidade
de cansaço
para escrever.
Só preciso de inten(cidade).

O poeta


"Acredita-te um gênio, e acabarás tornando-se um"
Salvador Dalí


o gênio não está ancorado na alma;
muitas são imensas, poucas brotam.

o gênio não está somente na mente;
inteligência árdua:
onde estão as sementes?
onde plantaram?
ninguém viu?

que gênio é esse de estudos?
da técnica?
Não, os livros são só um caminho...

o gênio é agua que escapa
é na VONTADE que o gênio se acha
na necessidade do poema imortal
onde está? fluiu?
passou perto,
mas morreste antes de acreditar.

sábado, 4 de setembro de 2010

Morte


Essa noite um colega faleceu. Lembrei-me do genio de Bergman, e do jogo ímpio que Deus impõe aos humanos: o xadrez da Morte.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

The Hollow Men (Os Homens Ocos)


      A penny for the Old Guy

I

We are the hollow men
We are the stuffed men
Leaning together
Headpiece filled with straw. Alas!
Our dried voices, when
We whisper together
Are quiet and meaningless
As wind in dry grass
Or rats’ feet over broken glass
In our dry cellar

Shape without form, shade without colour,
Paralysed force, gesture without motion;

Those who have crossed
With direct eyes, to death’s other Kingdom
Remember us—if at all—not as lost
Violent souls, but only
As the hollow men
The stuffed men.

II

Eyes I dare not meet in dreams
In death’s dream kingdom
These do not appear:
There, the eyes are
Sunlight on a broken column
There, is a tree swinging
And voices are
In the wind’s singing
More distant and more solemn
Than a fading star.

Let me be no nearer
In death’s dream kingdom
Let me also wear
Such deliberate disguises
Rat’s coat, crowskin, crossed staves
In a field
Behaving as the wind behaves
No nearer—

Not that final meeting
In the twilight kingdom

III

This is the dead land
This is cactus land
Here the stone images
Are raised, here they receive
The supplication of a dead man’s hand
Under the twinkle of a fading star.

Is it like this
In death’s other kingdom
Waking alone
At the hour when we are
Trembling with tenderness
Lips that would kiss
Form prayers to broken stone.

IV

The eyes are not here
There are no eyes here
In this valley of dying stars
In this hollow valley
This broken jaw of our lost kingdoms

In this last of meeting places
We grope together
And avoid speech
Gathered on this beach of the tumid river

Sightless, unless
The eyes reappear
As the perpetual star
Multifoliate rose
Of death’s twilight kingdom
The hope only
Of empty men.

V

Here we go round the prickly pear
Prickly pear prickly pear
Here we go round the prickly pear
At five o’clock in the morning.


Between the idea
And the reality
Between the motion
And the act
Falls the Shadow
For Thine is the Kingdom

Between the conception
And the creation
Between the emotion
And the response
Falls the Shadow
Life is very long

Between the desire
And the spasm
Between the potency
And the existence
Between the essence
And the descent
Falls the Shadow
For Thine is the Kingdom

For Thine is
Life is
For Thine is the

This is the way the world ends
This is the way the world ends
This is the way the world ends
Not with a bang but a whimper.


(T.S.Eliot)


Os homens ocos

(Um pêni para o Velho Guy)

Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dessecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada

Fôrma sem forma, sombra sem cor
Força paralisada, gesto sem vigor;

Aqueles que atravessaram
De olhos retos, para o outro reino da morte
Nos recordam - se o fazem - não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos
Os homens empalhados.

II

Os olhos que temo encontrar em sonhos
No reino de sonho da morte
Estes não aparecem:
Lá, os olhos são como a lâmina
Do sol nos ossos de uma coluna
Lá, uma árvore brande os ramos
E as vozes estão no frêmito
Do vento que está cantando
Mais distantes e solenes
Que uma estrela agonizante.

Que eu demais não me aproxime
Do reino de sonho da morte
Que eu possa trajar ainda
Esses tácitos disfarces
Pele de rato, plumas de corvo, estacas cruzadas
E comportar-me num campo
Como o vento se comporta
Nem mais um passo

- Não este encontro derradeiro
No reino crepuscular

III

Esta é a terra morta
Esta é a terra do cacto
Aqui as imagens de pedra
Estão eretas, aqui recebem elas
A súplica da mão de um morto
Sob o lampejo de uma estrela agonizante.

E nisto consiste
O outro reino da morte:
Despertando sozinhos
À hora em que estamos
Trêmulos de ternura
Os lábios que beijariam
Rezam as pedras quebradas.

IV

Os olhos não estão aqui
Aqui os olhos não brilham
Neste vale de estrelas tíbias
Neste vale desvalido
Esta mandíbula em ruínas de nossos reinos perdidos

Neste último sítio de encontros
Juntos tateamos
Todos à fala esquivos
Reunidos na praia do túrgido rio

Sem nada ver, a não ser
Que os olhos reapareçam
Como a estrela perpétua
Rosa multifoliada
Do reino em sombras da morte
A única esperança
De homens vazios.

V

Aqui rondamos a figueira-brava
Figueira-brava figueira-brava
Aqui rondamos a figueira-brava
Às cinco em ponto da madrugada

Entre a idéia
E a realidade
Entre o movimento
E a ação
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino

Entre a concepção
E a criação
Entre a emoção
E a reação
Tomba a Sombra
A vida é muito longa

Entre o desejo
E o espasmo
Entre a potência
E a existência
Entre a essência
E a descendência
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino
Porque Teu é
A vida é
Porque Teu é o

Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Não com uma explosão, mas com um suspiro.

(tradução: Ivan Junqueira)