quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Bom humor!


"A mim me parece que a razão tem de mandar sobre a vontade. Isto parece ser a coisa mais fria e mais forte que se pode dizer. Mas creio que somos racionais, e temos a obrigação de ser racionais, e de não nos deixar levar, jamais, pelo instinto. Ou seja, recuso-me a chorar, a ficar insatisfeita, deprimida. Ah, mas a depressão existe... sim. Pois sim... mas tomamos uns comprimidos e vamos trabalhar, ponto. Sou a favor dos fármacos. Ouve, uma vida inteira a sofrer com dores, quando agora temos fármacos que nos ajudam e vêm uns quatro gurus dizer: Não... é que fazem mal! Não, o que faz mal é passar mal! Temos que desdramatizar sobretudo nós, os privilegiados. Eu não posso estar e não me posso dar ao luxo de estar desesperada, nem sem esperança, nem triste, porque tenho tudo. E mais, tenho, inclusivamente, força para combater, que é o maior privilégio!"

Pílar, esposa de José Saramago.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Felicidade.

A pior falta de compostura que eu observo por aí é gente feliz. Gente feliz a todo instante e a todo lugar. Sorrisos belíssimos, aplacados em dentes fortes expostos timidamente entre lábios leves compostos de uma dança lunar minguante. Quanta pompa. Parece-me, frequentemente, que de tanta gente feliz, a felicidade deve estar sufocada, usada demasiadamente a todo instante e por qualquer motivo. Um celular novo, um sapato novo, um livro novo. Outro livro, outro celular, e mais uma cerveja com aqueles amigos de dez anos de convivência. Super amigos, gente super feliz também. A pior falta de compostura. Falta de compostura porque esse comportamento aniquila aquilo que há de mais valioso no gênero humano: a compaixão. Altruísmo e compaixão são sentimentos inúteis numa sociedade feliz. Quem irá precisar deles? Aqueles teus super amigos felizes? Não, que é isso, eles são tão para cima, não são desse tipinho não. Superam tudo! E eu, que sempre assumi um tom meio melancólico, me sinto agora tão sereno por contemplar uma felicidade rica, uma felicidade que gente feliz não sente, que é preciso ter sentido a vida alfinetar o coração para fazer brotá-la. E isso me dá uma alegria tão grande, que eu me embriago de esperança de encontrar algum ser humano remanescente nesse planeta, e falar a ele desse sentimento tão divino que é a compaixão, e perguntá-lo se ele o conhece.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Pousou a boca
de Deus em meu peito.
E o frêmito foi tanto
que Ele falou e falou,
inundou-me.
A saliva divina
escorreu pelos meus olhos.
Vai em busca de ti mesmo e não voltes se encontrares choro e desespero; nascer é sempre assustador.
Se houve uma coisa em vida que eu aprendi é que aprender nunca é o suficiente.
A maior ignorância é o auto-exílio. Por isso eu tenho fé e rezo, autêntico em meus devaneios.
É impulso
ou conforto
o caminho pleno/
Impulsos de paz
são sempre bem-vindos.
Deus é a fagulha de vida em meio ao desespero, o vaga-lume assustado em meio ao dilúvio no matagal.
O que eu quero
escrever?
Que ansiedade forte
me impele a não
dormir.
Ímpeto,
assaz faminto
vulcão brotado
da fonte
misteriosa e profunda.
Passa-se o tempo,
finda o poema,
e eu não sei
o que escrevo.

domingo, 21 de agosto de 2011

Cristo


Descobri, agora à noite, o que sempre me afastou do cristianismo: o sentido para com tudo no universo. A explicação cristã sobre a origem, a vida e o além são, no mínimo, responsáveis pelo meu afastamento dos exercícios de fé. Contudo, percebi que sabedoria do nazareno não atinge seu cume na filosofia lógica, mas na atuação, na fé prática. Cristo não foi um grande filósofo sistemático simplesmente porque não era para ele ter sido. Ele não veio para explicar o mundo, mas para apontar um caminho, uma possibilidade de fuga diante do trágico. A filosofia cristã, neste sentido, é puramente experimental, porque Deus não é semântico - e a isso deve-se preservar os mistérios ou encarar a loucura e os perigos de uma fé sistemática -, mas uma força que se imiscui nos sentidos construídos na prática do ser enquanto possibilidade de felicidade humana. Pensar assim é arriscar aquilo que Agostinho havia postulado em seu Cidade de Deus: que um dia a metafísica faria sentido e futuro e presente seriam uno, o paraíso tomaria conta do terreno. É possível pensar, nessa linha lógica, um efeito inverso: não que a o além tome a matéria, mas que a prática divina se faça óbvia, que o paraíso seja terreno. Por isso a imagem de Cristo mais querida por mim, tinha que ser uma borrada. O Deus cristão jamais pode ser inteligível.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011


A inquietude é a trilha da loucura
A paz da estultícia
A síntese do sábio

O dharma é bom companheirooooooo, niguém pode negar! =D


"Sua mente, agora desnorteada pela escuridão inata da vida, é como um espelho embaçado, mas, se polir, é certo que tornar-se-á claro como cristal de iluminação das verdades imutáveis. Manifeste-se na prática da fé, polindo seu espelho incessantemente, dia e noite."

Nitiren Daishonin.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Solidão

Solidão arranca o peito em agonia.
Fiz um chá; aceitas solidão?
Que boa companhia.

sábado, 13 de agosto de 2011

Poema ao pai pintor

Ingenuidade é limitar o Amor à palavra.

O silêncio lavra o sentimento

e fala.

Que é voz? O nada.

Parca vontade de dizer – limitada.

Além do não dito do mundo

infla a força do Ser.

Aguda, calada, emana o que é

e coagula se cárcere, explode:

em raiva,

em tristeza,

em drama,

em melancolia,

em não se sabe o que faz mal,

mas que faz.

Mas se não explode,

se escorre com carinho

pelo olhar debruçado sobre não sei o quê,

por entre abraços

ou pelos dedos,

cria-se da vida a boa (e verdadeira) paisagem:

aquela que teus dedos pintaram com arte

e essa, que eu pinto quando te escrevo!

Minha missão é ser. Enfim eu descobri isso.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Que o desespero e a escuridão me embacem a visão
e a vista escura, perdida pelos medos passados e futuros
se encolha à frente da coragem e da beleza
que marquem-me, com suas brasas doridas
sedentas pelo sofrimento.

Que a agonia desponte do ser:
rancores, mágoas e medos.
que são se não hóspedes do tempo,
provação que tem de ser vivida?
E do tormento a cura reluzir
na chama eterna de sua esperança
a luz do Altíssimo.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Do silêncio à palavra
produzo minha poesia.
É que há uma poesia profunda
do ser o coração a-semântico:
meditação.
Foder: um exercício divino de almas.
Por cem vezes vivi
Por cem vezes morri
Por cem vezes tive medo
Por cem vezes gritei de medo
e por cem vezes gritei ao medo.
Por cento e uma vezes vivi,
e deixarei aqui um bom espaço de linhas
até que eu morra de novo.

Poesia é desejo
compreensão além texto
sacra ironia.
Desespero
Paralisia
Coração consumido pelo medo
Tímido passo adiante
instante feito:
euforia.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Tenho e tive tantos medos. Medo de não ser aceitado pelos próximos por meus insucessos ou sucessos - porque tememos também a vitória, em algum lugar dentro de nós. Medo de mim , do que serei. É solidão, é fracasso, mágoa, peso é o que me aguardam? Amor, ah, amor. Tive tantas saudades de você hoje mais cedo. O amor padece... tive tanto medo de amar. Tive medo também de ter medo, e de tanto meeeeeedo que se prolonga no meu pensamento meditei na tentativa de não pensar. Tive medo de pensar, e pensei. Que covardia de minha parte pode parecer isso a vós leitores. Mas diria, com uma certa timidez, que hoje cedo compreendi com um sorriso largo ao sol das nove horas da manhã, que pareço ter vencido o maior dos meus medos. E não é que meu coração bateu mais forte de medo quando pensei nisso? Há de ser pensar que temos muito medo de vencer nossos medos. Tememos fracassos póstumos à coragem e ao sucessos. Tememos sobretudo, incrivelmente e traçoeiros, a esperança, por tudo de belo e bom que ela nos proporciona, e que pode-se perder. E agora, escrevendo ao som alegre do piano de Liszt, alimento meu coração de força à luz de tudo que emana alegria e efemeridade.