domingo, 21 de agosto de 2011

Cristo


Descobri, agora à noite, o que sempre me afastou do cristianismo: o sentido para com tudo no universo. A explicação cristã sobre a origem, a vida e o além são, no mínimo, responsáveis pelo meu afastamento dos exercícios de fé. Contudo, percebi que sabedoria do nazareno não atinge seu cume na filosofia lógica, mas na atuação, na fé prática. Cristo não foi um grande filósofo sistemático simplesmente porque não era para ele ter sido. Ele não veio para explicar o mundo, mas para apontar um caminho, uma possibilidade de fuga diante do trágico. A filosofia cristã, neste sentido, é puramente experimental, porque Deus não é semântico - e a isso deve-se preservar os mistérios ou encarar a loucura e os perigos de uma fé sistemática -, mas uma força que se imiscui nos sentidos construídos na prática do ser enquanto possibilidade de felicidade humana. Pensar assim é arriscar aquilo que Agostinho havia postulado em seu Cidade de Deus: que um dia a metafísica faria sentido e futuro e presente seriam uno, o paraíso tomaria conta do terreno. É possível pensar, nessa linha lógica, um efeito inverso: não que a o além tome a matéria, mas que a prática divina se faça óbvia, que o paraíso seja terreno. Por isso a imagem de Cristo mais querida por mim, tinha que ser uma borrada. O Deus cristão jamais pode ser inteligível.

Nenhum comentário:

Postar um comentário