terça-feira, 30 de agosto de 2011

Felicidade.

A pior falta de compostura que eu observo por aí é gente feliz. Gente feliz a todo instante e a todo lugar. Sorrisos belíssimos, aplacados em dentes fortes expostos timidamente entre lábios leves compostos de uma dança lunar minguante. Quanta pompa. Parece-me, frequentemente, que de tanta gente feliz, a felicidade deve estar sufocada, usada demasiadamente a todo instante e por qualquer motivo. Um celular novo, um sapato novo, um livro novo. Outro livro, outro celular, e mais uma cerveja com aqueles amigos de dez anos de convivência. Super amigos, gente super feliz também. A pior falta de compostura. Falta de compostura porque esse comportamento aniquila aquilo que há de mais valioso no gênero humano: a compaixão. Altruísmo e compaixão são sentimentos inúteis numa sociedade feliz. Quem irá precisar deles? Aqueles teus super amigos felizes? Não, que é isso, eles são tão para cima, não são desse tipinho não. Superam tudo! E eu, que sempre assumi um tom meio melancólico, me sinto agora tão sereno por contemplar uma felicidade rica, uma felicidade que gente feliz não sente, que é preciso ter sentido a vida alfinetar o coração para fazer brotá-la. E isso me dá uma alegria tão grande, que eu me embriago de esperança de encontrar algum ser humano remanescente nesse planeta, e falar a ele desse sentimento tão divino que é a compaixão, e perguntá-lo se ele o conhece.

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