quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Carlos


"O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá"

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Não chores


"Vamos, não chores...
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualqer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-se, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho."


Carlos Drummond de Andrade.
Hoje a tristeza bateu forte. Só me resta ler Drummond.

Porque a cultura de massa às vezes ensina mais que os grandes filósofos...


"Fight is the best thing to do when life gets you down!"
Zangief, Super Street Fighter IV.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Ciúme...? Lá, lá, lá...


Estranho, mas hoje eu o senti de uma maneira tão boa... fazia tempo que não vinha assim...

domingo, 26 de setembro de 2010

o que é poesia?
poesia é poesia, ora essa!
hoje eu pensei versos lindos, profundos
e os esqueci

engraçado,
os melhores poemas
raramente chegam aos papéis
esvaecem ao vento na mente

sábado, 25 de setembro de 2010

Versos a um jovem poeta


(a Rainer Maria Rilke)

todo poeta se questiona
se é dom ou esperança
o seu anseio
habita o teu sangue sílabas cantantes?
ou é tolice aquilo que incita a tua língua?
o que te move?
o que faz cócegas nos teus nervos?
é a PALAVRA?
poesia não cabe no ensejo de uma resposta
talento leva uma vida pra que se encontre
amola teus versos, teu viver
e o resto... ah, que se dane

sábado, 18 de setembro de 2010

Amadeus: sinfonia nº25.


Ensurdece-te ao mundo,
ouve teu outro mundo de dentro,
aquele que vibra.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Uma homenagema à minha tabaquice, minha sabedoria. Fazia tempo que esse menino não existia...


Bola de meia, bola de gude

Composição: Milton Nascimento


Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão

Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão

E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade alegria e amor
Pois não posso
Não devo
Não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal

Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto fraqueja
Ele vem pra me dar a mão

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Poema urbano


Eu preciso de fome
de agonia
de felicidade
de cansaço
para escrever.
Só preciso de inten(cidade).

O poeta


"Acredita-te um gênio, e acabarás tornando-se um"
Salvador Dalí


o gênio não está ancorado na alma;
muitas são imensas, poucas brotam.

o gênio não está somente na mente;
inteligência árdua:
onde estão as sementes?
onde plantaram?
ninguém viu?

que gênio é esse de estudos?
da técnica?
Não, os livros são só um caminho...

o gênio é agua que escapa
é na VONTADE que o gênio se acha
na necessidade do poema imortal
onde está? fluiu?
passou perto,
mas morreste antes de acreditar.

sábado, 4 de setembro de 2010

Morte


Essa noite um colega faleceu. Lembrei-me do genio de Bergman, e do jogo ímpio que Deus impõe aos humanos: o xadrez da Morte.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

The Hollow Men (Os Homens Ocos)


      A penny for the Old Guy

I

We are the hollow men
We are the stuffed men
Leaning together
Headpiece filled with straw. Alas!
Our dried voices, when
We whisper together
Are quiet and meaningless
As wind in dry grass
Or rats’ feet over broken glass
In our dry cellar

Shape without form, shade without colour,
Paralysed force, gesture without motion;

Those who have crossed
With direct eyes, to death’s other Kingdom
Remember us—if at all—not as lost
Violent souls, but only
As the hollow men
The stuffed men.

II

Eyes I dare not meet in dreams
In death’s dream kingdom
These do not appear:
There, the eyes are
Sunlight on a broken column
There, is a tree swinging
And voices are
In the wind’s singing
More distant and more solemn
Than a fading star.

Let me be no nearer
In death’s dream kingdom
Let me also wear
Such deliberate disguises
Rat’s coat, crowskin, crossed staves
In a field
Behaving as the wind behaves
No nearer—

Not that final meeting
In the twilight kingdom

III

This is the dead land
This is cactus land
Here the stone images
Are raised, here they receive
The supplication of a dead man’s hand
Under the twinkle of a fading star.

Is it like this
In death’s other kingdom
Waking alone
At the hour when we are
Trembling with tenderness
Lips that would kiss
Form prayers to broken stone.

IV

The eyes are not here
There are no eyes here
In this valley of dying stars
In this hollow valley
This broken jaw of our lost kingdoms

In this last of meeting places
We grope together
And avoid speech
Gathered on this beach of the tumid river

Sightless, unless
The eyes reappear
As the perpetual star
Multifoliate rose
Of death’s twilight kingdom
The hope only
Of empty men.

V

Here we go round the prickly pear
Prickly pear prickly pear
Here we go round the prickly pear
At five o’clock in the morning.


Between the idea
And the reality
Between the motion
And the act
Falls the Shadow
For Thine is the Kingdom

Between the conception
And the creation
Between the emotion
And the response
Falls the Shadow
Life is very long

Between the desire
And the spasm
Between the potency
And the existence
Between the essence
And the descent
Falls the Shadow
For Thine is the Kingdom

For Thine is
Life is
For Thine is the

This is the way the world ends
This is the way the world ends
This is the way the world ends
Not with a bang but a whimper.


(T.S.Eliot)


Os homens ocos

(Um pêni para o Velho Guy)

Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dessecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada

Fôrma sem forma, sombra sem cor
Força paralisada, gesto sem vigor;

Aqueles que atravessaram
De olhos retos, para o outro reino da morte
Nos recordam - se o fazem - não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos
Os homens empalhados.

II

Os olhos que temo encontrar em sonhos
No reino de sonho da morte
Estes não aparecem:
Lá, os olhos são como a lâmina
Do sol nos ossos de uma coluna
Lá, uma árvore brande os ramos
E as vozes estão no frêmito
Do vento que está cantando
Mais distantes e solenes
Que uma estrela agonizante.

Que eu demais não me aproxime
Do reino de sonho da morte
Que eu possa trajar ainda
Esses tácitos disfarces
Pele de rato, plumas de corvo, estacas cruzadas
E comportar-me num campo
Como o vento se comporta
Nem mais um passo

- Não este encontro derradeiro
No reino crepuscular

III

Esta é a terra morta
Esta é a terra do cacto
Aqui as imagens de pedra
Estão eretas, aqui recebem elas
A súplica da mão de um morto
Sob o lampejo de uma estrela agonizante.

E nisto consiste
O outro reino da morte:
Despertando sozinhos
À hora em que estamos
Trêmulos de ternura
Os lábios que beijariam
Rezam as pedras quebradas.

IV

Os olhos não estão aqui
Aqui os olhos não brilham
Neste vale de estrelas tíbias
Neste vale desvalido
Esta mandíbula em ruínas de nossos reinos perdidos

Neste último sítio de encontros
Juntos tateamos
Todos à fala esquivos
Reunidos na praia do túrgido rio

Sem nada ver, a não ser
Que os olhos reapareçam
Como a estrela perpétua
Rosa multifoliada
Do reino em sombras da morte
A única esperança
De homens vazios.

V

Aqui rondamos a figueira-brava
Figueira-brava figueira-brava
Aqui rondamos a figueira-brava
Às cinco em ponto da madrugada

Entre a idéia
E a realidade
Entre o movimento
E a ação
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino

Entre a concepção
E a criação
Entre a emoção
E a reação
Tomba a Sombra
A vida é muito longa

Entre o desejo
E o espasmo
Entre a potência
E a existência
Entre a essência
E a descendência
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino
Porque Teu é
A vida é
Porque Teu é o

Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Não com uma explosão, mas com um suspiro.

(tradução: Ivan Junqueira)





quinta-feira, 2 de setembro de 2010

poema em construção...

O pensamento não te faz forte
Viver te eleva
e nada mais

Ouve os antigos
os grandes dos livros
e saberás da vida

E quando sentires

Não haverá quem te diga