sábado, 11 de dezembro de 2010

Leitura




A poeisa me tirou a vida e arrastou-a por entre linhas
inseguras e tremidas
recortou-me em inúmeros pe-da-ços
em sílabas men-te
em sílaba
sílaba mão
em sílabas ven-tre
so-nho
pê-nis
co-ra-ção
ah, e você acredita que a poesia me põe em sílabas
que me dêem algum sentido?!
frequentemente vejo-me palavra soletrando "SO-RA-NIS",
"MEN-TRE-NHOS"
é sempre um emaranhado,
uma falta de consideração aos meus pedaços silábicos
cheios de saudade das palavras inteiras
e daquela fonética singular que só a palavra amor em sua integridade traz
que mania danada da poesia imitar a vida!
cansei-me, poesia!
quero-me palavra inteira e melodia
quero ler-me em quietude
no meu quarto claro
colados em tuas páginas os meus cacos
minha inteira matéria contida em teu papel

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