domingo, 7 de novembro de 2010

Se isso não foi para o romance Crime e Castigo eu me dane!


"O juiz vermelho fala assim: 'Por que foi que este criminoso matou? Queria roubar'.
Mas eu vos digo: a sua alma deseja sangue e não o roubo; tinha sede do gozo da faca!
A sua pobre razão, porém, não compreendia essa loucura e decidiu-o: 'Que importa o sangue? disse ela. - Nem ao menos deseja roubar ao mesmo tempo? Não deseja você vingar'?
E atendeu a sua pobre razão, cuja linguagem pesava sobre ele como chumbo: então roubou ao assassinar. Não queria envergonhar-se da sua loucura.
E agora pesa sobre ele o chubo do seu crime; mas a sua pobre razão está tão neutralizada, tão torpe!...
Se ao menos pudesse agitar a cabeça, a sua carga cairia, mas quem agitará esta cabeça?
Quem é este homem? Um conjunto de efermidades que, pelo espírito, abre caminho para fora do mundo, onde querem apanhar a sua presa.
Quem é este homem? Um bando de serpentes ferozes que não podem entender-se; por isso cada qual vai por seu lado procurar presa pelo mundo.
Vede este pobre corpo! O que ele sofreu e o que desejou, a alma o interpretou a seu favor: interpretou-o como deleite e desejo sangüinário do prazer da faca.
O que adoece agora, vê-se dominado pelo mal, que é mal agora; quer fazer sofrer com o que o faz sofrer; porém houve outros tempos e outros males e bens.
Antes era um mal a dúvida e a vontade própria. Então o enfermo torna-se hereje e bruxo sofria e fazia sofrer.
Porém isto não quer penetrar nos vossos ouvidos: prejudia, dizeis, os vossos bons; mas que me importam a mim os vossos bons?
Nos vossos bons há muitas coisas que me causam aversão, e certamente não é o seu mal."

Assim Falava Zaratustra, Nietzsche.

Não é de hoje que relações entre Dostoiévski e Nietzsche são evidentes. Postei esse trecho do Zaratustra apenas para registrar aqui as palavras do filósofo ao profundo personagem Raskolnikóv. E mesmo que já existam trabalhos sobre o tema, quando o assunto atravessa esses dois gênios não tem psicologia que aguente.

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