Quem encontra o dom de arrancar da alma desejos submergidos?
De tornar palavra profundos sons emudecidos?
Dádiva é cantar à vida boa amizade,
matéria rompida do silêncio, sina bem aventurada.
Nesse laço que eu tenho, que em tu, em nós, vivemos
não seja nunca essa alegre corda afrouxada.
É que surdo o mundo vive, e persiste
na solidão da palavra muda pronunciada.
E que vivam os outros protegidos em seus túmulos!
De sofrimentos compomos a matéria de nossos cantos
e saramos da mudez dos nossos lábios.
Dizer que te amo já seria engano
visto que a mim pertences quando me amo
num completo amor de nós mesmos.